sábado, 29 de outubro de 2011

Era domingo à tarde. Sol de Setembro. Duas amigas e eu. Uma garrafa, duas amigas e eu. Pra ser sincero, eu nunca estive tão bem e desligado de tantas coisas cômicas que tem me atingido em silêncio. Quero dizer que sempre guardei esses medos concretos dentro de uma caixinha de papelão. É tão fácil de rasgá-la, desvendá-la, mas não pude ver ninguém que soubesse fazer isso. Aliás, nunca existiu nem se quer uma tentativa. Isso não vem ao caso. Eu preciso contar à vocês que nunca fiquei tão bêbado e porco e desajeitado e sujo como naquele dia. Digo isso aos olhos dos que me olham. Eu, eu mesmo, eu não sei como sou, certamente não consigo me enxergar. Às vezes eu me filmo pra ter certeza de que meu sorriso amanheceu autêntico. Então, voltando ao mesmo assunto, naquele dia quente pra caralho, de pernas bambas, o show havia começado. Só lembro que era uma quadra no centro de algumas arquibancadas cheias de lugares ocupados e mentes vazias. Inclusive a minha. Eu só conseguia mostrar o dedo do meio para todos que sentavam à frente. Não sei, não pergunte o porquê, mas eu necessitava expor isso de alguma forma. Com um dedo. Cara, quão ridículo eu fui, mas juro que estava incapacitado de perceber tamanha futilidade. Subi as escadas e sentei no meio de duas pessoas que agora eu não lembro quem. Os gritos eram tão fortes que eu pude escutá-los no estado que eu me encontrava. Só sei que quando os integrantes entraram no palco, imediatamente eu cai de volta à mim. Foi doloroso. Algumas lágrimas não paravam de escorrer, algumas pessoas não paravam de me olhar e eu quis tirar um pouco essa capa que me cobre. Ainda cobre, mas naquele momento eu pude respirar. Enviei-te uma mensagem típica de gente-carente-mendigando-desprezo, sabe? Mandei. Esperei resposta. Não houve nem sinal. Eu cheguei à uma conclusão. Egoísta, talvez. Essa capa que me cobre e me esconde um pouco de tudo que eu sou, tem sido a minha única base de existência. Eu vivo dentro dela, no escuro.

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